Parque Industrial - Pagu
- Pagu
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Sinopse
Marco inegável da literatura brasileira, Parque industrial é uma reflexão brutal sobre classe, gênero, poder e desejo . Nascido em tom de esperança, Parque industrial foi escrito em 1932, quando Pagu tinha 22 anos, e publicado no ano seguinte sob o pseudônimo Mara Lobo. Em sua Autobiografia precoce , ela escreve sobre o romance: “Pensei em escrever um livro revolucionário. […] Ninguém havia ainda feito literatura desse gênero. Faria uma novela de propaganda que publicaria com pseudônimo, esperando que as coisas melhorassem. Não tinha nenhuma confiança nos meus dotes literários, mas como minha intenção não era nenhuma glória nesse sentido, comecei a trabalhar”. Abordando as consequências da industrialização brasileira do século XX, Parque industrial se consagrou tanto como retrato de época quanto como um manifesto em favor de seus personagens. Com habilidade sutil, Pagu denuncia as precárias condições enfrentadas pelas trabalhadoras da indústria têxtil paulistana, alinhando a isso as frustrações, traumas e vivências pessoais da mulher proletária. Ao mesmo tempo universal e particular, este livro é passagem obrigatória não só para os leitores de Pagu, mas a quem se interessa pelo panorama social do período.
Resenha
Literatura E Revolução
Ninguém nunca perdoará Pagu por ter trazido a superfície a parte maldita da sociedade, os humilhados e ofendidos ontologicamente negados pelos donos do capital. Ninguém nunca perdoará Pagu por ter atualizado na literatura brasileira a tradição dos cortiços, dessa vez com uma roupagem de literatura modernista. Ninguém nunca perdoará Pagu por ser mulher e aos 21 anos de idade escrever um livro inquietante e nada lisonjeiro sobre o mundo subterrâneo do luxo burguês de uma cidade como São Paulo, industrializada e vertiginosa. Ninguém nunca perdoará Pagu por ter feito um livro em que o elemento estético nunca está ausente e que pulsa de uma lírica riquíssima em suas ressonâncias. Ninguém nunca perdoará Pagu e é por isso que seu livro não é comentado, discutido e decifrado nas grandes teias da internet - é claro, os leitores estão ocupados demais com os narradores norte-americanos.
O livro de Pagu continuará incomodando os leitores satisfeitos em seu ninho, continuará deslocando e desconfortando. Imagine Aluísio Azevedo encontrando a vanguarda europeia e o marxismo: eis Parque Industrial. “Sem forma revolucionária não há arte revolucionária” – gritou Maiakóvski e parece que Patrícia Galvão ouviu. Essa mulher com vida fascinante, que conviveu com os modernistas brasileiros, os surrealistas franceses e entrevistou Freud em um navio rumo à China. Parque Industrial permanecerá como uma pérola de nossa literatura, como resposta do romance de 30 para a terrível condição dos trabalhadores de uma Metrópole.
Hoje podemos olhar para o romance com estranheza, já que vivemos em uma época relativamente segura no campo do trabalho, já que as empregadas finalmente conseguiram sair do sistema escravocrata das patroas loucas, mas devemos sempre lembrar que chegar até o ponto em que estamos foi uma subida terribilíssima e acredito que o pequeno romance de Pagu seja um documento e retrato potente dessa subida. O que dói mais é conferir nos diálogos dos abastados o mesmo tipo de pensamento que poderíamos ouvir hoje da classe média: o ódio irracional ao Brasil (o chic europeu ainda está na moda) e a falta de olhar para um povo oprimido e escandalizado pelas diferenças sociais gritantes. Parque Industrial permanecerá, doa a quem doer.