A Vergonha - Annie Ernaux
- Annie Ernaux
- 97 Páginas
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Sinopse
“Meu pai tentou matar minha mãe num domingo de junho, no começo da tarde.” Com a linguagem cortante e desprovida de sentimentalismos pela qual ficou conhecida, Annie Ernaux inicia mais um capítulo do seu projeto literário, dedicado a investigar a própria existência em sua dimensão social. Ao se debruçar sobre um episódio de violência doméstica do pai contra a mãe quando tinha doze anos, a escritora põe em curso o doloroso processo de rememoração de uma experiência traumática, ao mesmo tempo que identifica nesse incidente a gênese de um sentimento que passaria a acompanhá-la para o resto da vida.“Era normal sentir vergonha”, escreve Ernaux. O episódio de violência inaugura na escritora uma hiperconsciência de si e da própria família que, anos mais tarde, quando já reconhecida pelo sucesso de O lugar, destrincha neste livro ao reconstruir com precisão quase científica a vida na cidade de Y., bem como os usos e os costumes de sua classe social. No esforço de situar o incidente que encerra sua infância no contexto da história mundial, Ernaux visita os arquivos da cidade de Rouen em busca das notícias de jornal de 1952, em uma cena que os leitores já iniciados em sua obra identificarão como embrionária de Os anos, considerado por muitos seu maior livro. Como de costume, Ernaux entremeia a narrativa factual a reflexões sobre a escrita e o ato de traduzir em palavras um trauma que jamais ousara acessar. Marco importante de sua trajetória, é em A vergonha que pela primeira vez aparecem as indagações acerca da memória e da historicidade de nossas existências: “Naturalmente não procuro fazer uma narrativa, pois ela produziria uma realidade em vez de buscar uma. […] Em suma, gostaria de ser etnóloga de mim mesma”.Ao vasculhar a si e o passado familiar, Ernaux renova a linguagem do incômodo da inferioridade de classe, comovendo uma vez mais seus leitores com seus dizeres marcantes: “A vergonha se tornou, para mim, um modo de vida. No fim das contas, já nem percebia sua presença, ela estava em meu próprio corpo”.
Resenha
Era normal sentir vergonha...
?A vergonha se tornou, para mim, um modo de vida. No fim das contas, já nem percebia sua presença, ela estava em meu próprio corpo?.
Primeiro livro que leio da autora ganhadora do Nobel 2022, quando vi na biblioteca não pude deixar de experienciar esta leitura, porém confesso que foi difícil para mim por conta do tema que foi sensível que abordou.
Vergonha! Sentimento íntimo que não consegue ser falado em voz alta, nem se olhar diretamente nos olhos, compartilhei desse sentimento e tambem quis resolver questões antigas ao ler este livro que narra um período da vida da escritora, a partir de um momento divisor de águas em sua vida que a faz questionar a forma da sua existência e sociedade da época da França pobre no pós guerra. Um livro que certamente precisou de muita coragem para ser escrito.