Setenta - Henrique Schneider

Setenta - Henrique Schneider

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Sinopse

Raul é um bancário dedicado, um cidadão de bem levando uma vida tranquila em junho de 1970: destina todas as suas energias ao trabalho e a política não lhe interessa. Até que um dia, em meio ao clima de euforia patriótica às vésperas da final da Copa do Mundo, ele é confundido com um militante, preso e atirado em uma cela para confessar algo que não sabe. A partir daí, o jogo vira, e ele passa a viver o que de mais terrível aconteceu no Brasil nos anos de chumbo. Leia menos

Resenha

Setenta Setenta. Ditadura militar no Brasil. “Não há tortura no Brasil”. Com esta frase de Alfredo Buzaid, ministro da Justiça entre 1969 e 1974, que está estampado folha de rosto do livro “Setenta”, de Henrique Schneider, escritor e filho do deputado Nestor Fips Schneider, inicia a premiada obra publicada pela Editora Dublinense que entrou a lista dos melhores livros lidos em 2019. A obra leva o leitor à década de setenta, mesmo para quem não viveu à opressão dos militares na ditadura militar que assolou o país desde 1964 à 1985 e neste cenário, o bancário Raul, cidadão de bem; bem pacato, sem nada a declarar a ninguém. Metódico, por conta das atividades que adquiriu na profissão, segue sua vida regrada e equilibrada, morando com sua mãe, cuja forma de expor suas opiniões no livro, é bem típica de uma cristã devota, inocente em sua condição de indivíduo e um tanto quanto apresentado à figura da mãe brasileira. E em um dos dias, vésperas do final da copa do mundo, Raul é pego pelos erroneamente pelos militares de Porto Alegre alegando que foi suspeito de participar da tentativa de sequestro de um embaixador do Brasil, pátria amada que Raul venera e respeita. O terror vivido pelo protagonista por ser um cidadão de esquerda contra a ditatura que assolava o país anos a fio, é escancarado e fica evidente sobre tudo o que se passava nos porões da ditadura. E tudo se deu devido a uma camiseta vermelha que ele usava sem saber que aquela cor o colocaria para ser torturado no “pau de arara”. Ironicamente, certamente, o capítulo dezessete é o capítulo mais terrível da obra, pois o moribundo Raul está a sobre as piores atrocidades de algo que não fez e amargamente paga por tal. Anos após o fim da ditatura, o número dezessete, retoma com força que ainda não se sabe onde nos vai levar. Apenas torcer para que essa terrível era se retorne sobre nós, humildes brasileiros que como Raul, somos reféns dos sistemas que controlam o país. Em suma, Setenta, é de tamanha precisão que mesmo sendo ficção, tem lá suas nuances verdadeiras e leva a qualquer brasileiro repensar na política vivida nos anos de tortura e se perguntar: o que fazer se a ditadura retomar ao Brasil? Como sobrevier aos carrascos que levará os homens de bem que não apoia as opiniões do governo à amargura do pau de arara nos tempos de hoje? Pense, leia e entenda “Setenta”.