Segredos - Domenico Starnone

Segredos - Domenico Starnone

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Sinopse

Anos 1970, Itália. Pietro tem 33 anos e é professor numa escola na periferia de Roma. Ele mantém um relacionamento tempestuoso com Teresa, dez anos mais nova, uma ex-aluna brilhante e independente que parece o tempo todo testar seus limites. Certa ocasião, Teresa propõe um jogo: que eles compartilhem um com o outro o seu segredo mais obscuro. Poucos meses depois de se confessarem, o romance acaba. Pietro se envolve então com Nadia, uma jovem que lhe transmite segurança e com quem ele acabará se casando e tendo filhos: ela nunca seria capaz de remexer em suas coisas, ao contrário da antiga namorada. Porém, alguns dias antes do casamento, Teresa reaparece inesperadamente. E com ela a sombra do que eles confessaram um ao outro. A partir de então, essa confissão permanecerá como uma nuvem ameaçadora. E Teresa sempre ressurge diante de todas as encruzilhadas existenciais de Pietro. Ou será ele quem está sempre em busca da ex? Na sua vida profissional, Pietro é um inconformado com o estado da educação pública italiana. Após escrever um ensaio para uma conhecida revista, passa a chamar a atenção. Em seguida, publica um livro e começa a se destacar com suas ideias, dando palestras e entrevistas. Torna-se, no decorrer das décadas, um nome respeitado, figura merecedora das mais altas reverências. A tal ponto que, na maturidade, é convidado para receber uma homenagem especial do presidente da República por sua trajetória. Para a cerimônia, alguma pessoa igualmente notável deve apresentá-lo. É então que Teresa reaparece mais uma vez, agora uma pesquisadora mundialmente famosa radicada nos Estados Unidos. Exame brilhante e devastador sobre o que é dito e o que é silenciado, sobre a trajetória pessoal e a postura moral, Segredos descortina os meandros da construção de nossa identidade perante o mundo. E mostra como uma história de amor, às vezes, pode também guardar uma narrativa de medo e suspeição.

Resenha

GOT A SECRET, CAN YOU KEEP IT? ?Segredos? é o último romance publicado do escritor, roteirista e jornalista italiano Domenico Starnone, tendo chegado às livrarias em junho de 2020. Ganhador do Prêmio Strega de 2001, o nome de Starnone é sondado há quase duas décadas como sendo a possível identidade real de Elena Ferrante. Mistério esse que surgiu não apenas por sua escrita se aproximar muito da narrativa de Ferrante, mas também porque a esposa do escritor, Anita Raja, é a tradutora da editora que publica Ferrante. O ?Corriere dela Sera?, um jornal diário italiano chegou a publicar um quadro fazendo um comparativo para demonstrar como a prosa de Starnone possui uma semelhança que vai muito além do razoável com a de Ferrante. Foi uma investigação jornalística de 2016 que buscou encerrar o caso, quando, ao seguir as faturas da editora de Ferrante, trouxe à tona um debate sobre o direito ao anonimato. Boato ou verdade, a questão é que se tem algo de que Starnone gosta de falar é sobre ?segredos?. Neste romance, um professor de literatura vive uma paixão avassaladora com uma ex-aluna, e depois de muitas idas e vindas, tem diante de si uma proposta ousada: para que o vínculo entre eles se fortaleça, cada um deveria contar um segredo inconfessável. E é exatamente o que cada um faz, abrindo um para o outro o seu lado mais sombrio. Uma proposta arriscada, afinal... quem poderia garantir que esse laço um dia não se romperia? E realmente se rimpeu, e é aí que os riscos de que alguém exponha algo tão íntimo, e que ficou guardado por anos em uma caixa de pandora, seja descoberto por pessoas que ele tanto ama, ou até mesmo para aqueles que o admiram, começa a assombrá-lo a tal ponto que toda a sua vida passa a girar em torno daquele segredo um dia confessado. Como bem dizia a música do ?The Pierces?, e que foi tema do seriado ?Pretty Little Liars?, transmitido de 2010 a 2017: Got a secret, can you keep it? Swear this one you´ll save / Better lock it in your pocket taking this one to the grave. (Tenho um segredo, você pode guardá-lo? Jure que esse você vai guardar / Melhor trancá-lo em seu bolso, levando-o para a sepultura). A premissa das confissões de algo tão pessoal, algo que é tão sigiloso que não confessaríamos nem mesmo para a nossa própria sombra, é algo que instiga, afinal... quem é que não tem um segredo que o guarda a sete chaves? Mas tenho que confessar que apesar do começo promissor e fascinante, o ritmo não se mantém o mesmo até o seu final. Assim como em um outro livro que li recentemente deste mesmo autor, ?Laços?, neste o autor divide os relatos em 3 partes, sendo a primeira a visão do ocorrido pelo professor de literatura, o segundo a filha desse professor, e o terceiro (e a escolha mais óbvia) a ex-aluna que teve um caso com esse professor, e foi a portadora do seu grande segredo. Starnone tem uma escrita muito fluida e realmente gostosa de ler, com suas frases de efeito que imediatamente nos fazem pensar sobre o que foi dito, nos trazendo de volta ao tempo real, e promovendo essa reflexão sobre como agiríamos, ou o que pensamos sobre determinado assunto. Porém, apesar de tanto encanto colocado nas palavras, ao inserir à trama uma segunda temática de grande relevância, a questão do papel do professor nas escolas e seu impacto no processo de aprendizagem dos alunos, confesso que a narrativa (para mim!) foi perdendo um pouco a força. Uma outra confissão que faço, sobre uma visão bem pessoal, é que apesar de Starnone ter dito durante uma entrevista que ?Nós, homens, temos cada vez mais dificuldade para nos narrar?, suas personagens femininas seguem o mesmo padrão de mulheres megeras, (altamente!) manipuladoras e irritantemente geniosas. Esse excesso de diálogos femininos intempestivos me deixou um pouco cansada, e como a história fecha com a narração de duas personagens femininas, não posso negar que foi difícil finalizar a leitura, por ter se tornado muito maçante. Mesmo tendo essa sensação de que ele (autor) escreveu alguns desses comportamentos (e alguns bem irritantes) de algum recorte de uma experiência pessoal real. A conclusão do livro foi bem à lá Starnone, e não há como não dizer que foi maestral, fechando com muita sabedoria a questão dos segredos confessados, e do compromisso de uma vida estabelecido por seus interlocutores em carregar a promessa de jamais revelá-los à terceiros. Muito embora tenha sentido como se a história tivesse perdido um pouco a força com essa inserção de uma segunda temática igualmente forte, e da repetição de um mesmo padrão (negativo) feminino, há muito nesse livro que eu realmente apreciei, e sem dúvida essa foi uma leitura boa para distrair um pouco à mente de outras leituras mais densas que tenho feito paralelamente. "Não estou a fim de constatar que os melhores seriam os melhores independentemente de eu ser seu professor, e que os piores continuam os piores mesmo sendo eu seu professor. Salário de merda ou não, apocalipse iminente ou não, quero aqui dizer humildemente que me sinto menos triste - sim, menos triste - se me esforço para que aqueles que de todo modo fariam bem façam melhor graças ao meu trabalho, e para que aqueles que de todo modo fariam mal aprendam graças a mim a fazer bem".