Margarida La Rocque - Dinah Silveira de Queiroz

Margarida La Rocque - Dinah Silveira de Queiroz

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Sinopse

A obra conquistou prestígio e foi publicada em diversos países, entre eles França — onde ganhou elogios da escritora Colette —, Espanha e Japão, e considerada um best-seller em sua época.Ao contar sua história para um padre, Margarida La Rocque, nascida numa pequena aldeia na França, no século XVI, deseja “lavar o espírito de recordações aterradoras”, a começar pela profecia que a acompanha desde o nascimento, a de que conheceria o inferno em vida. Prossegue narrando o casamento com o aventureiro Cristiano, que partiu numa expedição à América e não retornou, e a decisão de, ao lado da ama Juliana, embarcar numa viagem ao mesmo destino, a fim de obter notícias do marido. No trajeto, envolveu-se com o tripulante João Maria, sem medir consequências.Descoberta a falta, a punição: o exílio de Margarida, Juliana e João Maria em uma ilha remota e misteriosa, conhecida como “ilha dos demônios”. O que nos primeiros dias pareceu uma aventura romântica e exótica desenrolou-se com ares de pesadelo, arrastando Margarida a um vórtice de paixão, medo, culpa e loucura, com a presença de criaturas tão fascinantes quanto assustadoras e um desfecho espantoso. Teria se cumprido a profecia?Publicado em 1949, Margarida La Rocque, o segundo romance de Dinah Silveira de Queiroz, trilha um caminho incomum, ao evocar relatos de viagem quinhentistas, literatura fantástica e terror psicológico, provando ser mais uma obra essencial para conhecer o inegável talento dessa autora.

Resenha

‘Margarida La Rocque’ ainda ia a meio da leitura quando me descobri seu mais novo (ainda que tardio) devoto. Conhecia a autora de nome e por uma breve menção, durante a graduação em Letras, à impossibilidade de classificar sua obra nas vagas regionalistas ou urbano-psicológicas da literatura brasileira das décadas de 1940 e 1950. Mas nunca a tinha lido, e começar por aqui me encantou. Exímia contadora de histórias, Dinah é capaz de transformar fórmulas gastas em complexos percursos narrativos, de relatar sonhos e delírios com vivacidade assustadora, de mostrar o avesso do fantástico no aprofundamento ambíguo da psique de sua protagonista. Uma autora, com efeito, inclassificável. Em meados do século 16, a narradora-protagonista deste romance é abandonada na misteriosa “ilha dos demônios” como punição após uma falta grave cometida a bordo do navio do “vice-rei das novas terras.” Acompanhada de sua aia, Juliana, e de seu amante João Maria, Margarida logo percebe que, aliada aos descompassos de uma paixão desmedida, a condição feminina de subalternidade é, por si só, capaz de povoar um paraíso de demônios e outros seres mesquinhos. À medida que os dias viram meses, a ilha ganha corpo, voz e inúmeros olhares sobre o trio de exilados, deixando o insólito tomar conta de suas certezas mundanas e espirituais. Profundamente perturbador, o romance entrega personagens complexas e contraditórias sufocadas pelo desconhecido e, em igual medida, aprisionadas às convenções e estruturas opressoras do mundo ao qual desejam retornar. Assim que chegou o livro, fui cativado pela belíssima edição, seduzido pelos elementos da narrativa anunciados na quarta capa (viagens quinhentistas, terror psicológico, atmosfera fantástica) e maravilhado pelas palavras que abriam o texto: “Padre, não vos faço uma confissão.” O resultado dessa interlocução é uma história entre a devoção religiosa e a apostasia, cuja amplitude de sentidos e elaboração simbólica são tão potentes e insondáveis quanto a própria ilha que a tornou possível.