Love Star - Andri Snaer Magnason

Love Star - Andri Snaer Magnason

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Sinopse

O enigmático e obsessivo fundador das Corporações LoveStar, desvendou o segredo para transmitir informações em frequências emitidas por pássaros, finalmente libertando a humanidade de dispositivos e cabos, e permitindo que o consumismo, tecnologia e ciência tomem conta de todos os aspectos da vida diária. Agora, homens e mulheres sem fio são pagos para gritar propagandas para pedestres desavisados, enquanto o programa Regret elimina todas as dúvidas sobre os caminhos não escolhidos. Almas gêmeas são identificadas e unidas através de um sistema altamente tecnológico. E enviar os mortos aos céus em foguetes se torna um símbolo de status e beleza, um show catártico para aqueles deixados para trás. Indridi e Sigrid, dois jovens amantes, têm seu mundo perfeito ameaçado, quando são calculados para outras pessoas e forçados a chegar a extremos para provar seu amor. Sua jornada os coloca em uma rota de colisão com LoveStar, que está em sua própria missão de encontrar o que pode vir a ser a última ideia do mundo. Citação de Excelência Philip K. Dick Award Vencedor do Grand Prix De L’imaginaire Indicado ao Icelandic Literary Prize

Resenha

Quando numa certa primavera as andorinhas do Ártico não conseguiram achar o caminho de casa, e em vez disso acabaram surgindo como uma nuvem de tempestade sobre o centro de Paris bicando as cabeças dos pedestres, muita gente achou que o mundo estava chegando ao fim, e que essa seria a primeira de uma longa série de calamidades. Essas pessoas armazenaram comida em lata e guardaram água em tonéis, esperaram uma praga de gafanhotos, secas, enchentes ou terremotos, mas nada disso aconteceu, pelo menos não em Paris. As agressivas andorinhas do Ártico tomaram de assalto parques públicos e ilhas de tráfego, mas os habitantes da região rapidamente se acostumaram a elas, e os velhos conseguiram se sentar nos bancos em paz, contanto que levassem uma sacola de sardinhas para aplacar os pássaros. As andorinhas do Ártico não mais voavam de um polo a outro. As noites de verão no Ártico não tinham mais guinchos nem bicadas; as noites de verão na Antártica também não. O senso inato de direção dos pássaros tinha ficado confuso, e algum instinto os informava de que sua posição global estava correta, que, sem dúvida, eles estavam no ponto certo ao norte do Círculo Ártico. A cidade devia ter brotado do solo enquanto eles estavam longe, lá no sul. As andorinhas mais velhas estavam irritadas e desorientadas, mas a primeira geração de pássaros da cidade não conhecia nada além do ruído do tráfego e das multidões humanas. Em pouco tempo as andorinhas do Ártico se tornaram uma das típicas paisagens parisienses. Os turistas podiam comprar cartões postais com fotos de uma Torre Eiffel branca de tantas andorinhas e vendedores de rua tentavam forçar as pessoas a comprar sacos cheios de peixinhos para alimentá-las. Isso não perturbava as aves, e como não havia nenhum predador que dependesse diretamente delas, também não prejudicava de forma significativa o equilíbrio ecológico. Algumas estações mais tarde, Chicago ficou cheia de abelhas, como se estivesse toda lambuzada de mel, embora na realidade quase não houvesse árvores ou flores à vista. Em fotos de satélites meteorológicos, uma depressão negra parecia flutuar sobre a cidade, um redemoinho cinzento girando no sentido anti-horário ao redor de um epicentro negro. As abelhas zumbiam, voavam, picavam e deixavam os cidadãos loucos. A única resposta foi envenená-las: aviões especialmente projetados para extinguir incêndios florestais voavam de um lado para outro, borrifando inseticida na cidade. Mas as abelhas continuavam sendo atraídas para lá e, por isso, o envenenamento continuou até que os últimos cidadãos finalmente abandonaram o lugar. Depois de algum tempo as ruas ficaram cobertas por uma camada de trinta centímetros de espessura de abelhas caídas carregando sementes e pólen em suas patas. Flores brotaram de cada vão e rachadura, criando raízes no meio das abelhas mortas. A vegetação começou a subir pelas paredes dos arranha-céus e se espalhou pelas calçadas. Os maiores prédios de vidro viraram estufas, quentes e úmidas, cheias de répteis, insetos e plantas tropicais que se dispersavam sem controle a partir de seus vasos, ao passo que outros edifícios lembravam imensas colmeias repletas de mel que escorria pelas paredes e entre os andares. Os ursos sentiam o cheiro da cidade, levado pelo vento até o Alasca. Eles lambiam os edifícios, pássaros pulavam de flor em flor, e os pobres decidiram correr o risco e se aventurar pela cidade em busca de mel e de coisas de valor. Um grande lago de mel se formou no centro de Chicago, ele escorria ao longo das ruas, passava por cima de praças e pingava dentro dos esgotos, absorvendo todos os cheiros e substâncias imagináveis que cruzassem seu caminho. Quem estava à procura de sensações incomuns passava-o no pão e descobria que o mundo e o próprio tempo se tornavam dourados, viscosos e doces como mel. Pouco depois que as abelhas perderam seu senso de direção em Chicago, borboletas-monarca também começaram a se comportar de modo estranho. Todos os anos, desde que as pessoas podiam se lembrar, as borboletas voavam em enormes enxames atravessando os Estados Unidos até o México, onde hibernavam durante o inverno. A floresta de hibernação ficava vermelha de tantas monarcas aglomeradas em cada tronco, galho e folha. Mas num certo outono as borboletas-monarca voaram na direção completamente oposta. Em vez de partirem para os seus territórios de inverno no sul, elas voaram para o norte. Tentaram redirecioná-las com ventiladores e redes gigantes; do alto de helicópteros elas foram aprisionadas e levadas à força para a floresta de borboletas. Mas algum instinto mandava que elas voassem para o norte e foi isso o que fizeram no momento em que foram libertadas. Definiram um curso para o Polo Norte e enxamearam ao redor dele até congelarem em pleno ar e caírem na terra como flocos de neve gigantes. Continuaram a voar em bando para o norte até que a calota ao redor do polo ficou vermelha de tantas monarcas. Ursos polares, vagando na camuflagem que desenvolveram ao longo de 10 mil anos, agora podiam ser avistados a quilômetros de distância. Quando as bolhas brancas andavam sobre o tapete de neve decorado com a estamparia de borboletas, as focas bocejaram e deslizaram sem pressa para dentro dos buracos no gelo. Os ursos polares quase morreram de inanição; eles não tinham outros 10 mil anos para mudar para a cor laranja. Mas eles acabaram aprendendo a rolar nas borboletas com os pelos molhados, e, se um número suficiente de monarcas congelasse neles, voltavam a ficar invisíveis. Seus rastros continuavam brancos, mas as focas não eram inteligentes o bastante para se precaver de rastros brancos com dentes afiados se aproximando em alta velocidade. As pessoas logo começaram a suspeitar do motivo por trás de tudo isso: o mundo estava tão saturado de ondas, mensagens, transmissões e campos elétricos que os animais estavam captando toda espécie de lixo no ar. Quando quatro aviões Boeing 747 caíram no mesmo dia a exatamente dez quilômetros de seus destinos pretendidos, as pessoas começaram a procurar a sério um substituto para essas ondas. Uma borboleta-monarca pesando dez gramas podia viajar pouco mais de 1.500 quilômetros sem a ajuda de um satélite. Ano após ano, um mandrião do Ártico era capaz de voar de seu ninho em Melrakkasletta, no norte da Islândia, até sua rocha favorita a leste da Cidade do Cabo, na África do Sul, apenas por instinto. Criaturas com cérebros do tamanho de nozes, sementes ou felpas podiam fazer isso, mas humanos com suas cabeças pesadas teriam precisado de dezoito satélites, um receptor, um radar, mapas, bússolas, um transmissor, vinte anos de treinamento e uma atmosfera tão espessa de ondas que praticamente deixaria de ser transparente. Ninguém podia provar que as ondas faziam mal aos humanos, mas as pessoas estavam prontas para acreditar nisso e era o que bastava – o resto não passava de detalhe. O mundo estava radioativo. Todos que ficavam doentes com qualquer coisa, de leucemia a resfriado, culpavam as ondas. “Coloque um chapéu!”, as mães diziam a seus filhos. “Isso vai proteger você das ondas. Senão seu cabelo ficará eletrificado e roubará sua força vital!” “Calce as luvas, filho! Dedos nus são como para-raios que atraem ondas.” “Ponha uma pedra no seu bolso esquerdo e uma garrafinha com água no direito. Isso equilibra o fluxo de energia.” Toda semana se instaurava um novo processo na justiça contra as emissoras de rádio e TV mais populares do mundo pelos problemas mais aleatórios pelos quais a poluição por ondas levava a culpa. Membros fanáticos de grupos radicais de protesto explodiram transmissores de micro-ondas e torres de transmissão, mas, de modo geral, esses incidentes foram abafados pela mídia a fim de impedir uma epidemia. Normalmente, quem noticiava esses fatos eram os jornais impressos, pois o aumento de suas vendas era proporcional ao número de torres explodidas. Os cientistas lamentavam a imbecilidade do público, os acadêmicos se recusavam a levar a sério esse campo de estudos e os médicos continuavam a insistir que as ondas não surtiam nenhum efeito comprovado sobre o corpo humano. Entretanto, num velho hangar do aeroporto de Reykjavik, um pequeno grupo internacional de ornitólogos, biólogos moleculares, aerodinamicistas e bioquímicos se reuniu para investigar as ondas. Eles trabalhavam dia e noite, dissecando e examinando andorinhas do Ártico, pombos, abelhas, salmões e borboletas-monarca. Eram motivados pela crença inabalável de que seria possível descobrir os segredos por trás do instinto de navegação. A organização se chamava LoveStar, nome pelo qual o dono da empresa também se apresentava. Nenhum motivo foi dado para o nome, e as pessoas logo desistiram de esperar uma explicação sensata.