A Segunda Morte - Roberto Taddei
- Roberto Taddei
- 144 Páginas
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Sinopse
Um homem deixa misteriosamente sua vida pregressa rumo a uma comunidade litorânea. Relato incisivo sobre a desagregação física, familiar e social, A segunda morte traz uma singular descrição da velhice e do encontro humano com a morte. "Ele vê a mata escura da serra acender no retrovisor, rajada pelo vermelho das luzes quando pisa no freio, e outra vez o mundo atrás de si desaparece no breu." Assim começa este breve romance, numa descida, espécie também de fuga, com um personagem que deixa uma vida para trás. Na direção do mar, uma vila de pescadores do litoral, é para onde ruma Gustavo, um homem de quase oitenta anos, na companhia apenas do peso lento do próprio declínio. Com uma prosa direta, Roberto Taddei nos conduz ao território da finitude e do poder masculino devastado. Se é na doença que o corpo percebe mais profundamente a si mesmo, A segunda morte é a narrativa de uma sensibilidade aguçada, que aos poucos vai sendo tocada por tudo ao redor — da umidade da vegetação costeira às luzes fracas dos barcos no mar; da interação com os habitantes locais à atmosfera misteriosa das trilhas por rochas e encostas. Em suas páginas, o realismo — e a consciência humana — se desfaz num tom mágico, de estranhamento. Uma queda e uma ascensão. A dissolução da vida no grande mistério. "Com uma escrita vigorosa, Roberto Taddei nos apresenta uma espécie de estudo lúcido e honesto sobre a finitude. Trata-se de uma investigação profunda da condição humana e de nossa precariedade diante da vida." — Jeferson Tenório "Gosto da maneira como o autor omite informações que, ainda que pareçam fundamentais, a rigor seriam supérfluas — o motivo que leva o protagonista a querer desaparecer é uma delas. O livro é muito bom." — Paulo Henriques Britto
Resenha
A liberdade da maturidade
Gente, que difícil falar deste livro! Estava gostando tanto, mas...
A Segunda Morte é um livro que prendeu minha atenção desde que li a sinopse, pois me agrada muito livros que falam sobre o envelhecimento. E este aqui ainda me pegou mais forte ainda durante a leitura, pois mostrou o declínio físico trazido pelo tempo e isso me fez lembrar muito dos últimos dias de meu pai, ao ponto de as descrições serem tão reais e explicitas que muitas vezes precisei dar uma parada para respirar.
No livro acompanhamos Gustavo, um senhor de quase 80 anos que decide fugir de sua vida e viver na praia com o mínimo de posses possível. Ele não tem uma mala, zerou sua conta no banco e após chegar ao vilarejo onde decide que vai ficar, ele até vende seu carro. Em dinheiro, para não deixar pistas.
E é ali nesta comunidade litorânea que ele passa a conhecer pessoas e passa a viver com uma certa liberdade que parece ser ideal para alguém na sua idade, que não tem mais tempo para viver com amarras e dando satisfação aos outros, e é pensando assim que nosso velhinho vai vivendo naquela região, conversando com pescadores, caminhando em trilhas no meio da Mata Atlântica , tentando ajudar pessoas no meio de uma tempestade e até tomando banhos pelado ao luar.
Na praia onde ele chega, ele conhece Bianca, a idosa dona da única pousada que consegue recebe-lo, já que ele chega por ali em uma momento de altíssima temporada do verão, onde todas as pousadas já estão lotadas,
E logo ai o autor já vai quebrando clichês, pois tudo leva a crer que teremos um casal na terceira idade, porém ao invés de encontrar um novo amor, é com ela que ele vai ter contato com a finitude da vida, já que de repente, ele que achava que já estava no fim dos seus dias se vê envolvido com uma família e tendo que cuidar de um idoso em condições muito piores do que as dele.
Mas o livro não é só sobre declínio. Talvez seja também sobre fugas e encontros.
Do que Gustavo está fugindo? Ou o que ele está buscando encontrar?
E é aí que infelizmente temos o “mas...”
Infelizmente, na literatura nacional atual tenho a impressão de que se o livro não terminar com um “más”, ele será considerado uma subliteratura. E fico triste em perceber isso.
Certos livros precisam de pontos finais, não de reticências.
Finais abertos muitas vezes respeitam o leitor deixando lacunas que podem vir a ser preenchidas por cada um com sua visão específica, o que acaba fazendo com que levemos o livro conosco mais um tempo após a história escrita terminar.
Porém, as vezes ao invés de lacunas, temos abismos, que nos deixam pendurados sem chance de recuo, e confesso que isso me incomoda, mas... parece que para muita gente o importante é a jornada.
Como eu ja disse, Gustavo não deve satisfação há mais ninguém, pois acredita ter encontrado a liberdade da maturidade.
Sigo tentando pensar por este prisma.
Sendo assim, como jornada é um bom livro, mas podia ter sido muito melhor.