O Santo das Sombras - O Legado do Ferro Negro Vol. 2 - Gareth Hanrahan
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Sinopse
O Milagre das Sarjetas mudou a paisagem de Guerdon para sempre. Seis meses após ser conjurada, a labiríntica Cidade Refeita tornou-se um paraíso para criminosos e refugiados da Guerra dos Deuses. Circulam rumores de que há uma nova arma devastadora pelos subterrâneos ― uma arma que tem o poder de destruir até mesmo um deus. Enquanto Guerdon faz de tudo para manter a neutralidade, duas das mais poderosas facções da guerra enviam seus agentes para encontrá-la. As tensões aumentam e os exércitos se acumulam nas fronteiras, mas por quanto tempo Guerdon será capaz de manter seus inimigos a distância? Com a aclamada estreia de “A oração dos miseráveis”, Gareth Hanrahan introduziu um mundo de feiticeiros e ladrões, deuses caídos e magia perigosa. Agora, a aventura épica continua nesta emocionante sequência da série O Legado do Ferro Negro.
Resenha
Resenha: O Santo das Sombras
O segundo volume da série O Legado do Ferro Negro chegou pra gente em cortesia da Editora Trama, junto com A Oração dos Miseráveis, e hoje a resenha é pra falar de O Santo das Sombras, essa expansão no universo criado por Gareth Hanrahan que tanto me cativou lá no primeiro livro.
Esse texto vai conter alguns spoilers de A Oração dos Miseráveis.
O Milagre da Sarjeta criou uma cidade de pedra dentro de Guerdon, nosso cenário principal no começo dessa aventura. Depois da catástrofe orquestrada pelos alquimistas para tentar trazer os Deuses do Ferro Negro de volta - que foi impedida no último segundo por uma ladra e um Homem de Pedra - Guerdon enfrenta instabilidade.
Tanto nas ruas, quanto na política, fragilizada depois do incidente com os alquimistas - que, até então, eram a maior fonte de poder político na cidade - e até mesmo em consequência da Guerra dos Deuses que está acontecendo além do mar.
Com uma eleição de aproximando para tentar estabilizar a cidade, e espiões de todos os cantos do mundo invadindo Guerdon aos poucos para encontrar a arma matadora de deuses, é questão de tempo até que a crise se torne colossal e incontrolável - e até que a guerra divina chegue com tudo nesse cenário.
"- Os deuses enviam dragões para flagelar tanto o pecador quanto o homem honesto."
O Santo das Sombras pega esse mundo estabelecido no primeiro volume da série e escala toda a potência dele ao máximo no decorrer das suas páginas. Do começo ao fim, é um livro intenso, carregado em política, reviravoltas e magia.
Gareth Hanrahan já tinha me ganhado em A Oração dos Miseráveis com toda a sua criatividade sem limites na construção de Guerdon e da fantasia que engloba esse universo, e aqui ele se estabeleceu como um autor que eu fiquei muito animada por ter conhecido.
A fantasia de O Legado do Ferro Negro é excêntrica, curiosa e sombria. Toda a questão com os deuses e seus santos, a magia que faísca nas ruas, os mistérios que acompanham o Milagre da Sarjeta, é tudo muito bem explorado nesse volume. É uma expansão de universo, por assim dizer, porque antes era só sobre Guerdon. Agora, é sobre o mundo.
Não apenas a cidade de comércio que se tornou familiar pra gente, mas Haith e Ishmere também. Dois territórios distantes, muito mais maculados pela Guerra dos Deuses, cada um com suas peculiaridades e detalhes intrincados que os tornam vivos dentro da história, tal qual Guerdon.
Haith, inclusive, é um cenário importante nessa expansão de pontos de vista, e tem muitos detalhes na sua concepção. É um mundo que reverencia a morte de infinitas maneiras, com uma pegada de mitologia nórdica no que concerne "morrer com glória"; conforme a história avança, conhecemos mais sobre a cultura, as histórias antigas e o que esse lado do mundo carrega como legado. E o quanto isso vai influenciar no que está por vir.
O Santo das Sombras abre com um capítulo carregado do fantástico, que já dita o tom que essa história vai ter. Enquanto em A Oração dos Miseráveis estávamos lidando com um santa relutante, outra santa mal humorada e deuses aprisionados, aqui temos uma explosão de deuses, santos e consequências.
Eu não consigo falar o suficiente sobre como esse esquema dos deuses é criativo e medonho. Eles são entidades superiores, mesquinhas e sedentas por poder; cada um deles, por um tipo de poder. E seus santos são marionetes relegadas a servi-los até se esgotar. As consequências e paralelos disso, em cada personagem conectado às divindades e naqueles ao seu redor, são grandiosas e ganham proporções titânicas com o passar das páginas.
Tal como se espera de uma guerra divina.
Há muitos novos personagens nessa segunda parte da história, abrindo caminho que foi deixado pelos personagens principais do anterior. Eladora, prima da nossa querida Cari, é uma das peças principais dessa nova visão de mundo; ela guia a trama à sua maneira, com seu jeitinho estudioso e cuidadoso, sempre pensando racionalmente onde tem muita emoção.
"- Quando tudo parece perdido, procure a ajuda dos deuses."
Um rosto novo que muito me surpreendeu foi o espião. Falar dele é estragar a surpresa, mas ele aparece de repente e não parece grande coisa, só para se tornar essa grande coisa com o passar dos capítulos. Sua trama, entrelaçada a Guerdon e às divindades e santos, é essencial para o desenrolar desse livro.
Eu gosto de como as personagens femininas são fortes, independentes e extremamente versáteis. Vocês bem sabem que morro de receio de ler autores escrevendo mulheres porque já enfiei o pé na jaca com vários, mas o Gareth escreve suas personagens como deveria ser: como pessoas. Elas têm falhas, tem anseios, tem sonhos. Algumas são corrompidas pelo poder, outras lutam contra ele. Eladora é só uma entre dezenas de outras personagens importantes que aparecem no decorrer da história, e que eu não posso parar para elogiar porque senão essa resenha vai ter muito mais páginas.
O Santo das Sombras é uma fantasia completa para o deleite de quem ama esse gênero. Segue firme e forte no legado deixado por seu antecessor, dando novos ares ao universo, trazendo maiores perigos ao que conhecemos, nos apresentando ao desconhecido para dar visão do que vai se tornar essa série.
"A morte e o dever estão inextricavelmente entrelaçados em Haith. Morrer bem é um dever."
Com cenas de ação, mistério e até mesmo alguns momentos para dar uma aterrorizada, O Santo das Sombras é a sequência perfeita para ditar o tom maduro de O Legado do Ferro Negro. Gareth Hanrahan encerra esse segundo volume com um baque, e deixa espaço para um terceiro livro ainda mais arrebatador.