O Reino de Cobre - Trilogia de Daevabad Vol. 2 - S. A. Chakraborty
- Trilogia de Daevabad Vol: 2
- S. A. Chakraborty
- 738 Páginas
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Sinopse
RETORNE A DAEVABAD NA FASCINANTE CONTINUAÇÃO DE A CIDADE DE BRONZE
A vida de Nahri se transformou para sempre quando acidentalmente invocou Dara, um guerreiro djinn dividido entre um dever violento do qual nunca poderá escapar e uma paz que teme nunca merecer.
Retirada de sua casa no Cairo e inserida na deslumbrante e traiçoeira corte de Daevabad, ela precisou de seus instintos mais primitivos para sobreviver. Agora, com a cidade impregnada com as consequências de uma devastadora batalha, Nahri deve aceitar os próprios poderes e a herança milenar que jamais sonhou possuir.
Enquanto isso, Ali foi exilado por ousar desafiar seu pai. Caçado por assassinos e à deriva nas implacáveis areias de cobre de sua terra ancestral, ele é forçado a confiar em suas novas habilidades. Mas, ao fazer isso, ameaça descobrir um terrível segredo que sua família há muito mantém enterrado.
Uma nova era se aproxima. Os djinns se reúnem dentro das paredes de bronze de Daevabad para comemorar, mas um poder invisível do desolado norte trará uma tempestade de fogo direto para os portões da cidade. Conseguirão sobreviver a esta ameaça sem precedentes?
Resenha
O Reino de Cobre é o segundo volume da trilogia de Daevabad, da autora S.A. Chakraborty. Com um ritmo de crescente tensão, esse livro trabalha as consequências de tudo que aconteceu em A Cidade de Bronze, e abre espaço para uma conclusão de tirar o fôlego.
Esta resenha vai conter alguns spoilers do livro anterior.
Cinco anos se passaram desde os incidentes no porto de Daevabad. Ali foi exilado, e sobrevive no deserto depois de se aliar a um povo que conhecia muito da sobrevivência; graças ao incidente com os marid, Ali tem uma conexão com a água, e ela responde a ele sem que ele entenda como faz isso - o que garantiu ao rapaz e seus aliados uma chance nas terríveis areias do deserto.
Em Daevabad, Nahri vive com cautela. Ciente de que qualquer passo em falso pode causar tragédia para o seu povo Daeva, em quem Ghassan, o comandante daquela cidade, desconta sua fúria, Nahri anda em uma corda bamba. Seus poderes e sua herança mágica são os únicos fatores que garantem sua sobrevivência naquele lugar; mas não apagaram o fogo da revolta e da injustiça que queimam dentro dela.
E Dara, distante de todos, encontra aliança com uma figura inesperada que, em uma crescente de guerra, pode garantir a ele o retorno a Daevabad e o fim da tirania dos Al Qahtani.
O Reino de Cobre foi um livro intenso. Ele é lento, um slowburn de fantasia, mas mais carregado em perigo do que A Cidade de Bronze porque, agora, conhecemos o mundo, os riscos e o que está por vir.
A guerra entre os povos desse universo fantástico é certa, mas como ela vai eclodir é o que garante a tensão da narrativa. O Reino de Cobre pareceu, para mim, um pavio aceso, com um barril de pólvora no fim dele. O caminho que esse pavio percorre é tenso e tumultuado, cheio de reviravoltas e paradas bruscas, mas, eventualmente, chegamos à explosão de emoções que é o fim desse volume.
S.A. Chakraborty leva seu tempo para desenvolver as mudanças na história e para pesar as consequências de tudo que aconteceu no fim do primeiro livro. Dara, Ali e Nahri estão diferentes; eles carregam as cicatrizes físicas e emocionais do que viveram, dos horrores aos quais foram submetidos, e agem de acordo com o que aprenderam a fazer para sobreviver.
A questão política se entrelaça à religiosa e à mágica de tal maneira que uma não se desenvolve sem a outra; crença, fé, lealdade, herança, sangue. Tudo isso move a história, as injustiças, a sede de vingança. Esse é um mundo castigado por guerras antigas, movido por opressão e privilégios e por rancor. A magia oprime tanto quanto cura; o passado fortalece tanto quanto fere.
O quanto personagens oprimidos estão dispostos a erguer sua voz contra o governo terrível, o quanto esse governo está se estilhaçando pela falta de controle, o quanto sombras se levantam entre as areias do deserto para reivindicar o que lhes pertence, tudo isso cresce com o desenrolar da história.
"- Estou cansado de todos nesta cidade se alimentando de vingança."
O Reino de Cobre discute muito bem as questões políticas e sociais. Eu gostei demais dos caminhos pelos quais ela levou todos os personagens. Daqueles que agem de maneira extrema porque é como aprenderam a responder às desigualdades, até os que são comedidos porque sabem que precisam ter cuidado quanto confrontam um poder maior que o seu. Tem aqueles que nunca vão agir, tem aqueles que vão agir entre as sombras, e tem aqueles que vão erguer a voz sem medo das consequências.
Esse é um livro sobre rebeliões silenciosas, sobre batalhas explosivas e escolhas que pavimentam a ascensão ou a queda definitiva de impérios.
Os arcos dos protagonistas, divididos entre Dara, Nahri e Ali, são intensos. Começam com calma, porque temos uma passagem de tempo e o desenvolvimento do que se tornaram as vidas deles depois do caos que foi o fim de A Cidade de Bronze e, devagar, a autora trabalha a crescente das suas escolhas e das suas jornadas.
Nahri, da ladra trambiqueira das ruas do Cairo para a Banu Nahida, curandeira e salvadora do seu povo, uma figura de poder e respeito, quase mística, para prisioneira dos Al Qatani, submissa ao governo deles para se manter viva; mas jamais dobrada ao seu favor. Jamais quebrada o suficiente para deixar todo o seu fogo e revolta se apagarem.
"- Sinto que o centro de nosso mundo deveria pertencer a todos nós."
O arco dela em O Reino de Cobre é grandioso porque explora todo o potencial da personagem. Ela usa o privilégio da sua posição entre os nobres para garantir privilégios aos que jamais os teriam sem alguém lutando por eles. Ela vê essa guerra entre os povos que habitam Daevabad e conhece o suficiente de conflitos para entender o horror que eles carregam. E esse é um conflito que existe há muito tempo, milhares de anos, e que definitivamente não vai ter fim com palavras inflamadas ou vinganças pouco comedidas.
Nahri se mostrou uma personagem feminina incrível, com falhas e forças, fazendo boas escolhas e outras que se mostravam complicadas. É uma personagem interessante de acompanhar, em toda sua concepção e principalmente em todo o seu crescimento; da garota perdida para uma figura ciente do poder que tem, especialmente da manipulação que ele carrega, é um grande salto. Ela encontrou sua voz e não tem mais medo de usá-la. Já se cansou do sofrimento causado por se calar, e sabe o preço de erguê-la.
Meu deus como eu quero ver o que está reservado para ela no último livro dessa série!
Ali, por outro lado, passa por rompantes mais radicais envolvendo seus ideais, sua fé e sua fidelidade à família e Daevabad. Enquanto Nahri é muito fiel a si mesma e a todos os povos, Ali ainda vive questionamentos envolvendo sua criação e sua família.
Mesmo exilado, a lealdade dele aos Al Qatani é poderosa; mesmo depois de tudo pelo que passou com o pai, ainda existe uma parte frágil no coração de Ali que mais se ressente do que se zanga pelo que Ghassan fez ele viver. E isso é importante, porque mostra a fragilidade do personagem. Faz com que a gente torça para que ele se fortifique, para que quebre as amarras dessa relação abusiva com uma figura tão terrível quanto a de Ghassan.
"Na experiência de Ali, sonhar com um futuro melhor só levava à ruína."
Tem também todo o mistério envolvendo o incidente no lago e sua conexão com os marids que o livro explora de maneira magistral, guardando o melhor para os momentos mais explosivos. S.A. Chakraborty sabe como explorar a lentidão e a ação da sua narrativa, e o faz nos pontos de virada mais intensos possíveis; ela constrói toda essa sensação de que estamos nos aproximando da beirada de uma montanha-russa, e nos deixa a beira dela até o limite.
Por fim, falar sobre o Dara é estragar uma experiência emocional impactante do início ao fim, então deixo apenas meu coração para todo o arco dele. Um dos personagens mais complexos que já tive o prazer de ler, o Afshin tem grande destaque durante o livro todo, e vive os maiores conflitos de emoção, de razão e de moral na história.
Sem decepcionar, a autora desenvolve seus protagonistas junto aos coadjuvantes de tal maneira que não existiria história principal sem as paralelas. É tudo muito conectado, fluído e, tal como Daevabad, as tramas se entrelaçam através de sangue, família e amor.
Personagens como Muntadhir, Nisreen, Ghassan, são essenciais para o que a cidade, e seus protagonistas, vivem. Daevabad, por si só, é não apenas o palco, mas a alma dessa série; é onde tudo acontece, mas é onde todos acontecem.
"Era aquela cidade inteira. Daevabad tinha destruído todos que ali viviam, do rei tirano ao trabalhador shafit que espreitava no jardim dela. Medo e ódio dominavam a cidade - acumulados durante séculos de sangue derramado e os rancores resultantes deles."
A magia corre solta pela trama, por seus personagens, pela cidade e além dela. É um mundo rico e criativo, que nos apresenta uma mitologia única e que, como toda boa fantasia, nos faz acreditar que sim, existe uma cidade perdida em meio à oásis e um deserto imenso, escondendo criaturas mágicas do mundo humano.
Tem alguns flashes de romance, discretos em comparação à política, fé e problemas familiares, mas servem para trazer um pouco mais de suavidade para a história. Para quem não curte tanto foco em romance, como eu, é outro ponto muito positivo dessa série.
A guerra se aproxima, mas o caminho que a pavimenta é o que torna O Reino de Cobre uma continuação tão emocionante. Do começo ao fim, a sensação de uma explosão que se aproxima mantém seus olhos grudados nas páginas. São 704, mas passam voando.
Aliás, o motivo para o livro ter o título que tem! Surto e gritaria.
Por aqui, eu fico roendo as unhas até o lançamento de O Império de Ouro, volume final da Trilogia de Daevabad que a Morro Branco já confirmou pra esse ano. E, de novo, se você gosta de fantasia da mais intensa e complexa possível, essa é a sua série.