Rainhas da Noite - Chico Felitti

Rainhas da Noite - Chico Felitti

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Sinopse

Uma história impactante e envolvente das três travestis que comandaram o centro de São Paulo entre 1970 e 2010, do autor dos podcasts  A mulher da casa abandonada  e  O Ateliê . Entre as décadas de 1970 e 2010, Jacqueline Welch, Andréa de Mayo e Cristiane Jordan comandaram o centro da cidade de São Paulo. Três pessoas T que passaram por mudanças políticas e sociais, sofreram e perpetuaram ameaças e violências diversas, abusos e crimes. Contudo, a história delas quase não aparece nos documentos oficiais. Não restam fotos de Jacqueline com suas "filhas" no bordel. Não há reportagens ou processos de quando Cristiane foi vítima de pedofilia na prostituição. Não há inquéritos policiais dos assassinatos que Andréa dizia ter cometido. Diante desse apagamento loquaz, Chico Felitti, um dos mais engenhosos e inovadores jornalistas da atualidade, resolveu montar uma complexa rede de pesquisa e entrevistas para reconstituir a história de três personalidades fundamentais tanto para São Paulo quanto para a comunidade LGBTQIA+. Com sua narrativa envolvente e embasada, Felitti mostra o que ficou de fora do registro burocrático: a ternura, a riqueza, a generosidade e a irmandade das três travestis fortes que dominaram o centro da maior cidade do Brasil por décadas.

Resenha

As excluídas de um grupo de excluídos Acabei de escutar o audiobook e é difícil descrever apenas uma sensação ao entrar em contato com estas histórias. Talvez a predominante seja a tristeza, por todo o potencial destruído nestas vidas, toda solidão e medo. Chico Felitti  nos leva a este submundo, dos anos 70 ao início dos 2000. Assim como Dante, somos conduzidos aos círculos mais profundos do Inferno do centro de São Paulo, para presenciarmos os pecados e pecadores. Novamente neste trabalho Felitti nos mostra toda sua maestria em cavar informações de personagens não registradas nos documentos oficiais e apresenta o mundo das ruas por diferentes olhares. Não há romantização e as travestis que dominaram o centro da capital são descritas em toda complexidade que um ser humano que aprendeu a lidar com a violência desde cedo pode oferecer. É como se o autor parafraseasse Goulart de Andrade em seu programa Comando da Madrugada, citado em determinado momento do livro: "você vai me seguir e vai me acompanhar, porque você percebe o (sic) travesti no seu meio social e se incomoda com ele, então não me venha com hipocrisia de querer rejeitar uma reportagem dessa natureza, porque você precisa conhecer quem é o travesti". Andréa de Mayo ainda diria neste programa: "O palhaço pinta o rosto para viver, e o travesti também. Mas quem dá trabalho a um travesti?" Nesta escassez de oportunidades, expulsas de casa, perseguidas pela polícia e rejeitadas até dentro da comunidade gay, a rua se torna um Coliseu onde a batalha é pela sobrevivência, sem regras, pois o nosso mundo, em que teoricamente se erige o poder da Justiça, não acolhe estes seres. As leis e a delegacia das travestis são criadas por elas mesmas. Conhecer as Rainhas do Crime é conhecer a história de São Paulo e sua relação com a comunidade LBGTQIA+, é se inteirar de uma luta por direitos de todas e todos, um grito por um futuro mais inclusivo.