Notas do Subsolo - Fiódor Dostoiévski
- Fiódor Dostoiévski
- 154 Páginas
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Sinopse
Este livro introduz as idéias de moral e política que o escritor mais tarde abordaria nas obras-primas 'Crime e castigo' e 'Os irmãos Karamazóv'. Sua idéia de 'homem subterrâneo' legou à ficção européia moderna um dos seus principais arquétipos, encontrado também em Kafka, Hesse, Camus e Sartre - o anti-herói morbidamente obcecado com a sua própria impotência de lidar com a realidade que o cerca.
Resenha
Resenha de Notas do Subsolo
O chamado subsolo é a camada logo abaixo da terra, talvez, como forma de metáfora, quando alguém vai em direção a tal lugar, geralmente significa um afastamento total da sociedade, quem sabe de si mesmo. Nesse contexto, perguntamo-nos, quais motivos fariam alguém isolar-se de tal maneira? Publicado em 1864 e escrito pelo autor russo, Fiódor Dostoiévski, Notas do Subsolo trata-se de uma narrativa em primeira pessoa a qual é dividida em duas partes e de forma indireta, responde a nossa pergunta.
Falando sobre o primeiro ato. A obra começa desenvolvendo-se em uma espécie de ensaio no qual, de forma direta e sarcástica, o personagem argumenta com seus adversários (o próprio leitor e suas possíveis ponderações diante de cada afirmação) sobre temas diversos, principalmente pertinentes à liberdade. Nesse sentido, o livro, apesar de propor noções instigantes, começa, de certa forma monótono e um tanto quanto sem sentido, como se tivéssemos caído de cabeça em uma roda de debates. Apesar disso, tal momento é importante para darmos início ao entendimento da personalidade deturpada do protagonista.
No segundo pedaço, no entanto, a obra toma corpo e parte para memórias sobre o passado do narrador. Se na primeira parte já podíamos ver seus rancores, na segunda entendemos perfeitamente as nuances da construção de tal homem perturbado e imergimos em seus traumas. Agora, com uma narrativa mais fluída e já com a introdução dos diálogos tão bem estabelecidos por Dostoiévski, o livro desenvolve-se de maneira muito mais aprazível, apesar de perturbadora. Aqui sentimos um incomodo, a prisão do sujeito principal às suas próprias disforias passa a ser, de tão real, irritante, afinal, os personagens mais difíceis são igualmente os mais humanos e nesse sentido, o autor mais uma vez conseguiu reproduzir a imagem de alguém atormentado por uma vida sem sentido e pela constante fuga de seus sentimentos.
Durante a obra, o protagonista faz uma pergunta poderosa, “é possível alguém ser inteiramente sincero consigo mesmo e não temer toda a verdade? ”. No fim, percebemos algo perturbador. Mesmo sabendo a resposta para essa pergunta (um retumbante não), ele preferiu não enfrentá-la, escolheu esconder-se e negar o constrangimento de admitir precisar de pessoas, de ser carente e sentir-se sozinho, tendo, como consequência, seu afastamento da sociedade (não se trata de spoiler). Notas do subsolo é um livro dolorido, enxugado por um personagem excessivamente dramático e neurótico o qual pode tirar do sério boa parte de seus leitores e mais deixa-los impacientes do que devidamente satisfeitos, apesar disso, a obra traz um icônico estudo de personagem o qual consegue, facilmente, mudar a forma de ver algumas de nossas atitudes (se levadas ao extremo). Uma leitura não tão agradável, mas uma reflexão extraordinária.