A Menina que não fui - Han Ryner

A Menina que não fui - Han Ryner

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Sinopse

Gênero e sexualidade são os temas centrais de A menina que não fui, romance polêmico francês traduzido pela primeira vez para língua portuguesa. “Ainda que outras obras ficcionais já tivessem tematizado as relações afetivo-sexuais em colégios internos, aqui certamente não se repete o recurso de botar panos quentes para não escandalizar.” (João Silvério Trevisan, no prefácio de A menina que não fui) Com foco no público LGBTQIAP+ e inédito em língua portuguesa, o romance chega ao leitor brasileiro pelos editores da Ercolano, Régis Mikail e Roberto Borges, a partir da reedição francesa de 2012(Gay-Kitsch-Camp), documentada e comentada por Marie-France David-de Palacio e Patrick Cardon. A edição brasileira abre com o prefácio de João Silvério Trevisan, intitulado “O Menino que era Rainha” em alusão à ascensão e ao declínio do protagonista François de Taulane, que era apelidado de “mulherzinha” e “rainha Françoise” pelos colegas que por ele sentiam tanto desprezo quanto atração. O olhar de Trevisan traz elementos-chave para atualizar a discussão sobre A menina que não fui, ressaltando sua pertinência para a contemporaneidade. Na passagem do século XIX para o XX, a França vivia um conflito que se estende aos nossos dias: por um lado, a imposição de uma sociedade laica e, por outro, o enfraquecimento do catolicismo nessa mesma sociedade. Além disso, o discurso médico-científico e a então recém-nascida psicanálise passavam a ocupar o papel antes desempenhado pela religião. Nesse contexto, o enredo de A menina que não fui se situa em grande parte na instituição de ensino Saint Louis de Gonzague, frequentada pelo próprio Ryner durante a juventude. Os diretores religiosos, em sua hipocrisia, são retratados não apenas como incapazes de sustentar a própria moral que pregavam, mas também como corruptos, sendo assim uma das causas da triste sina do protagonista e narrador em primeira pessoa. Homossexual, François é atormentado por seus desejos e por um possível desconforto em seu gênero. Ele decide contar por escrito sua luta interior e todas as dificuldades que enfrentou por causa de seus amores e delírios. Assim como O Ateneu, de Raul Pompeia e Sébastien Roch, de Octave Mirbeau, os traços notavelmente intimistas e escandalosos de A menina que não fui se distinguem dos chamados “romances de costumes colegiais” e, de maneira geral, da literatura de sua época.