O Caminho dos Reis - Os Relatos da Guerra das Tempestades Vol. 1 - Brandon Sanderson
Avaliações: 0
Sinopse
Do autor best-seller n.º 1 do "New York Times" Brandon Sanderson, "O caminho dos reis", o livro mais aguardado de todos os tempos, chega ao Brasil iniciando uma incrível saga épica. Roshar é um mundo de pedras e tempestades. Essas estranhas tormentas, de incrível poder, varrem o terreno rochoso com tanta frequência que terminaram moldando não apenas a ecologia, mas também a civilização. Animais que se escondem em conchas, árvores de galhos rígidos e uma vegetação que se retrai e se revela. As cidades só podem ser construídas onde a topografia oferece abrigo. Já se passaram séculos desde a queda das dez ordens conhecidas como os Cavaleiros Radiantes, mas suas Armaduras e Espadas Fractais permanecem: objetos místicos que transformam seres comuns em guerreiros praticamente invencíveis. Homens dão seus reinos em troca das Espadas Fractais. Guerras são travadas por elas, e são elas que garantem a vitória. Uma dessas guerras ocorre em uma paisagem inóspita conhecida como Planícies Quebradas. Lá, Kaladin, que abandonou seus estudos de medicina em troca de uma lança para proteger seu irmão mais novo, foi reduzido à escravidão. Agora, em meio a um conflito que parece não fazer sentido, no qual dez exércitos lutam isoladamente contra um único inimigo, Kaladin busca manter seus homens enquanto sonda os outros líderes. O Luminobre Dalinar Kholin comanda um dos exércitos. Assim como seu irmão, o falecido rei, ele é fascinado por um texto antigo chamado "O caminho dos reis". As visões dos tempos antigos e dos Cavaleiros Radiantes o fazem duvidar até da própria sanidade. Do outro lado do oceano, a jovem Shallan, ainda inexperiente, procura realizar seu treinamento com a Luminosa Jasnah Kholin, a sobrinha herege de Dalinar. Embora aprecie o aprendizado, a motivação de Shallan não é tão nobre assim. Enquanto planeja um roubo um tanto ousado, a pesquisa que faz para Jasnah sugere segredos dos Cavaleiros Radiantes — e a verdadeira causa da guerra. Após mais de dez anos de planejamento e construção deste universo único, "O caminho dos reis" é o fantástico capítulo de abertura de Os Relatos da Guerra das Tempestades, uma obra-prima de grande magnitude que continua a ser elaborada. Volte a dizer os antigos juramentos: Vida antes da morte. Força antes da fraqueza. Jornada antes do destino. E devolva aos homens os Fractais que outrora portaram. Os Cavaleiros Radiantes devem se erguer novamente.
Resenha
Resenha: O Caminho dos Reis
O Caminho dos Reis é o primeiro volume da saga Os Relatos da Guerra das Tempestades, chegando aqui pela Editora Trama. Um épico de fantasia, política e ação com uma das histórias mais criativas e emocionantes que eu já li.
Roshar é uma terra cruel. Grandes tempestades, chamadas grantormentas, varrem sua superfície, e o bioma, a geografia e a civilização foram moldados a partir disso. Animais desenvolveram carapaças para aguentar essas furiosas tormentas. Plantas desaparecem sob o chão quando elas chegam. Cidades, vilarejos e acampamentos adaptaram sua organização para não sofrer o baque completo.
Quando o rei dos alethianos é assassinado durante uma confraternização com o misterioso povo Parshendi, uma guerra se inicia. Ambos os povos passam a travar batalhas nas Planícies Quebradas, o território mais hostil e complexo de Roshar. Com grandes paredões a serem atravessados, e abismos que guardam monstros terríveis.
Kaladin era um soldado, e se tornou um escravo. Ele odeia os olhos-claros, nobres e grandes figuras da sociedade, por uma coisa terrível em seu passado. Mas, em sua busca por retribuição, ele acaba sendo jogado na equipe da Ponte Quatro de travessia nas Planícies Quebradas. E, lá, Kaladin vai fazer o possível e o impossível para ajudar essa equipe a sobreviver.
Nesse mesmo território, Dalinar comanda sua própria equipe. Ele é irmão do rei que foi morto, e carrega pesar por não ter sido capaz de salvá-lo. Quando as grantormentas vêm, Dalinar é atormentado por estranhas visões sobre o que parece ser o passado. E os misteriosos Cavaleiros Radiantes, a quem seu falecido irmão parecia estar dedicando muita atenção antes de morrer.
Do outro lado do mundo, na cidade de Kharbranth, a Cidade dos Sinos, Shallan chega com uma missão. Ela precisa conquistar a posição como aprendiz da enigmática e brilhante Jasnah, uma estudiosa que tem atravessado territórios em sua pesquisa. Mas Shallan não tem interesses científicos; ela está ali para roubar um artefato mágico que pode salvar a sua família da ruína.
Em meio a tramas intrincadas nesse gigantesco mundo, O Caminho dos Reis entrega o que eu só consigo descrever como um épico de fantasia. Sabe aquele livro que começa grandioso e termina num tom ainda mais grandioso? É esse.
"Vida antes da morte. Força antes da fraqueza. Jornada antes do destino."
Essa é realmente a história da vida do Brandon Sanderson. Como eu contei lá no post sobre o livro, ele começou a ser desenvolvido nos anos 90, para chegar ao mundo na sua versão final só em 2011. Mais de uma década de criação e escrita que são bem ilustrados no quanto O Caminho dos Reis é gigante. E não apenas em tamanho. É gigante em brilhantismo, em política, em reviravoltas, em desenvolvimento de personagens, em cenas de ação.
É aquele tipo de história de fantasia que enche seus olhos, porque tem tudo.
E o mais surpreendente é que, mesmo com 1240 páginas, O Caminho dos Reis tem um dos melhores ritmos que eu já encontrei em um livro. Eu juro por tudo que existe, não dá para ver essas páginas passando. É tudo tão bom, tão bem orquestrado, que prende sua atenção. Quando você vai ver, já está perto do final, e quando percebe, já terminou.
Os núcleos bem divididos, e as partes que separam cada momento da história, ajudam a construir o ritmo. É aquela coisa de "quando tal personagem chega no momento crucial, a trama corta para outro núcleo para segurar sua curiosidade". Aí, quando o novo personagem está vivendo aquele épico de desenvolvimento e passa por um momento chocante, O Caminho dos Reis te diz "opa, vamos voltar lá pro fulano? Segura a emoção aí" e isso é tão bom. O tempo todo, você quer respostas. E elas chegam no momento que precisam chegar. Constroem a história nesse ritmo de montanha-russa, que é um dos meus favoritos.
A enormidade desse mundo que é Roshar, e a grandiosidade dos personagens que acompanhamos, são dois pontos que eu vou rasgar elogios por aqui.
Vocês já estão carecas de saber que eu sou apaixonada pela construção de universo do Brandon Sanderson. O nível de detalhes, de realidade que ele coloca nas histórias, torna cada mundo um lugar familiar para quem está lendo. Roshar é uma terra cruel e perigosa, mas é cativante justamente por ser tamanho desafio.
Toda a questão com as grandes tempestades, o mistério envolvendo de onde elas vêm, como acontecem, por que acontecem, permeia o desenvolvimento da trama. Tudo o que sabemos é que são mortíferas, e também são a razão de haver Luz das Tempestades para ser usada por quem consegue canalizá-la - como é o caso do artefato que a Shallan está querendo roubar.
O sistema de magia se entrelaça à construção do mundo. É dependente dos detalhes que cercam Roshar. Mas também tem mistério. Quem eram os Cavaleiros Radiantes, e por que eles desapareceram? E o legado que deixaram para trás, como as Armaduras e as Espadas Fractais? Como é o funcionamento da coisa toda, como elas são encontradas, como são usadas? Todas as respostas chegam no momento certo; algumas desencadeiam novos enigmas. Como a boa obcecada que sou, minha ficha de leitura passou de uma ficha para um pequeno caderno, porque são tantos detalhes que eu quero me prender a tudo.
"Eles eram o cargo mais baixo no exército, e ainda assim, carregavam o peso de reis."
Tem também as questões envolvendo a divisão desse mundo. As mulheres, por exemplo, são a mente. Apenas elas podem escrever, praticar artes, se dedicar a estudos. A guerra é dos homens; as batalhas, os embates, o caos, é deles. Nos acampamentos, é comum ver os senhores da guerra caminhando ao lado das escribas para que suas histórias sejam registradas. Mas nem sempre foi assim. Vislumbres do passado grandioso através das visões de um personagem nos fazem questionar o que aconteceu.
O Caminho dos Reis estabelece seu mundo muito bem através dos seus personagens. Conhecemos as peculiaridades de Roshar conforme seus protagonistas e coadjuvantes as confrontam. Eu fiquei fascinada pelas grandes tempestades, e pelo que existe escondido dentro delas.
Agora, pra falar de personagens, senta que lá vem o surto.
De novo, vocês estão ainda mais carecas de tanto que eu falo sobre como o Brandon Sanderson constrói personagens cativantes. Cada livro traz um leque deles, e é impossível não se apaixonar perdidamente quando eles aparecem. Em O Caminho dos Reis, pelo tamanho da história, pelo período que acompanhamos, pela força de cada núcleo, isso foi elevado à milésima potência.
"Melhor existir em agonia do que desaparecer por completo."
Eu preciso pedir desculpas ao Kelsier, mas ele perdeu o posto de meu favorito no momento em que Kaladin, Filho da Tempestade apareceu.
Soldado, escravo, sobrevivente. A história dele é um impacto atrás do outro. Sabemos que alguma coisa triste e terrível aconteceu no seu passado para que tamanho rancor o mova agora. Kaladin é um olhos-escuros; a divisão de sociedade em Roshar acontece através da cor dos olhos das pessoas. Aqueles que têm olhos claros (azul, verde, violeta, amarelo, etc) são nobres e bem de vida. Aqueles que têm olhos escuros vão penar e ter pouco respeito. Aquela história de que sempre existe uma hierarquia de poder. E sempre tem aqueles que vão além dela, abusando do privilégio que têm.
É através de flashbacks que conhecemos mais sobre quem Kaladin era. E é através do seu magnífico desenvolvimento que vemos quem ele é, e quem pode se tornar, se abraçar a própria força.
"Você não deveria ficar em choque ao entregar uma lança para Kaladin, Filho da Tempestade, e ele mostrar que sabe como usá-la."
Kaladin é aquele estilo de herói relutante, sabe? Ele faz a coisa certa, mas tem seus receios. Ele não quer ser um líder, ainda que a liderança venha naturalmente para ele. Kaladin vê uma injustiça e precisa confrontá-la, porque a moral dele se inclina para o bem. Mas também tem algumas sombras no personagem. Algumas marcas de medo, fragilidade, de retribuição e de terror que o tornam humano.
Sua relação com a Ponte Quatro vem da sobrevivência, a princípio. E então da amizade. Rocha e Teft foram meus favoritos nesse esquadrão improvável. Foi ótimo acompanhar o cara caladão (ou caladin - ba tum tss) se abrir com os companheiros do terror que é atravessar as Planícies Quebradas. Kaladin é o primeiro a dar esse passo, a mostrar que eles estão ali para mais do que serem alvos em um jogo de guerra. Eles são sobreviventes. E eles aguentam o tranco.
Também tem toda uma questão misteriosa com o Kaladin, que envolve a parte fantástica do livro. Apesar de ter visto algumas fanarts que entregavam um pouco desse plot de O Caminho dos Reis, a surpresa ao redor dele ainda foi emocionante. Então, vou me abster de falar sobre o que acontece. Só vou dizer que, quando começa a acontecer, tudo que você consegue fazer é gritar "É PRA ISSO QUE EU TÔ AQUI!".
"Você quer ser um milagre?"
"Não. Mas, por eles, eu serei."
Enquanto o arco do Kaladin envolve esse renascimento todo, a ascensão do escravo para um sobrevivente para um guerreiro, o núcleo do Dalinar tem bastante foco em política. Nos custos dessa guerra incessante, que já leva anos e não chegou a lugar algum. E, também, em mistério, porque suas visões são estranhas. Mas parecem querer dizer alguma coisa.
Dalinar foi outro favorito, logo de cara. Eu não posso ver um personagem honrado que já quero abraçar e colocar em um potinho. No meio dos muitos príncipes que o rodeiam, Dalinar é um pilar de confiança para o leitor. Ele é um senhor da guerra com anos de experiência, cansado da tormenta, com medo de não ser mais suficiente para o seu reino. Seu sobrinho assumiu o trono depois da morte do seu irmão. Mas Dalinar tem aquele temor de que ele talvez não esteja tomando as decisões certas para o que os Alethi precisam.
A guerra com os parshendianos segue a toda força, mas seria mesmo essa a resposta? Quando, depois de tantos anos, nenhum grande progresso parece ter sido feito?
É nas visões, e nos estudos do irmão sobre os textos antigos chamados O Caminho dos Reis, que Dalinar espera encontrar as respostas.
Todos os dilemas morais e sentimentais desse personagem foram tão bons! Pela idade, pela vivência, os medos que ele experimenta dizem muito sobre quem Dalinar se tornou. E o medo que ele tem de não ser suficiente, atormentado pelas visões e pelas incertezas, é um traço maravilhoso que a narrativa trabalha bem demais. Todo capítulo em que ele aparecia eu queria entrar no livro e abraçá-lo para garantir que as coisas ficariam bem (spoiler do bem: nunca ficavam). E sobre suas visões, que chegam com as grandes tempestades e parecem dizer muito sobre o que o futuro reserva para Roshar: prepara pra cair da cadeira.
Do outro lado do mundo, mas com uma conexão interessante a tudo que está acontecendo nas Planícies Quebradas, temos a minha trambiqueira nerd favorita. Shallan, que vai até o berço do conhecimento para cometer um furto.
"Ações não são más. Intenções é que são más."
Jasnah, a mulher a quem Shallan quer impressionar, é difícil de entender no começo. Mas se torna uma figura extremamente inteligente com o passar dos capítulos. Ela é o tipo de personagem que carrega os melhores argumentos, que faz as perguntas mais instigantes, que coloca Shallan para gastar todos os neurônios que tem com questionamentos para lá de importantes.
A relação entre as duas foi maravilhosa de acompanhar. Ao mesmo tempo em que tinha aquela hierarquia de poder, da mestra e da aprendiz, também se desenvolve em um companheirismo, em respeito, e em amizade. Shallan vê, em Jasnah, um futuro que até então não tinha encontrado; tornar-se uma estudiosa, seguir caminho pela imensidão da biblioteca de Kharbranth, tudo isso pode acontecer. Mas, para acontecer, ela precisa tomar decisões. E são essas decisões que movem a personagem no decorrer da sua trama.
Eu gostei bastante dos conflitos que apareceram para a Shallan. De como ela lidou com cada um deles. Diferente da guerra que se estende do outro lado do mundo, aqui temos uma guerra de interesses, da parte da Shallan. Ideológicos, considerando as situações que envolvem religião, fé e descrença, nas quais Jasnah costuma ser colocada. E também tem o mistério. Porque os estudos e a condução das pesquisas de Jasnah parece se aproximar de respostas para perguntar que eu nem imaginava ter até então; e, da parte da Shallan, ela esconde alguma coisa que vai além dessa intenção com o furto. Alguma coisa fantástica cerca essa personagem - fantástica e macabra, se me permite dizer. Deu uns arrepios toda vez que aconteceu.
Esse arco é importante e se conecta ao dos outros personagens porque, como eu disse, Roshar se move através dos seus personagens.
O que é a grande ameaça de O Caminho dos Reis, qual o grande problema que eles virão a enfrentar, vai se mostrando aos poucos. Os motivos da guerra, os conflitos entre os reinos, os núcleos intermediários que aparecem nos interlúdios entre os principais. Tudo está ali por um motivo. Quando esse motivo se revela, só resta surto e gritaria.
As cenas de ação do livro são intensas e marcadas por descrições tão incríveis que as torna nítidas durante a leitura. As travessias de ponte, os cercos nas Planícies Quebradas, as cenas envolvendo as Espadas e Armaduras Fractais. É tudo tão, tão bem executado!
A questão com essas armaduras e espadas encantadas, também, é instigante. Você começa a entender mais sobre como elas funcionam e por que estão ali, como chegaram até esses guerreiros, com o passar do livro. Mas tem aquela faísca de curiosidade sobre o passado delas; a conexão com os Cavaleiros Radiantes.
"Então, o destino importa? Ou apenas o caminho que percorremos?"
Os desenhos que aparecem no decorrer de O Caminho dos Reis são um complemento ótimo para construir a visão do que é esse universo. São relatos, descrições, ilustrações, páginas de manuscritos antigos. Tudo se conecta ao que está sendo contado; os monstros que conhecemos nos conflitos aparecem nas ilustrações. Os relatos do passado surgem antes de aberturas de capítulos.
A edição da Trama ficou um espetáculo. As páginas são de extrema qualidade, a tradução de Pedro Ribeiro e Paulo Afonso ficou maravilhosa, com todas as adaptações de termos criados desse universo para tornar acessível para os leitores do Brasil. Todo o trabalho da equipe, dos consultores, esse livro ficou impecável. Uma edição digna para a grandiosidade de Roshar.
Eu sinto que falar não é suficiente para explicar a experiência que é ler O Caminho dos Reis. Assim como A Guerra da Papoula, A Quinta Estação e outros favoritos que citei por aqui, você precisa ler. Precisa viver essa história; se apaixonar pelos personagens, pelo mundo, pelos desafios. É impossível parar, uma vez que começa e, quando terminar, vai implorar por mais.